O Baidu está oficialmente deixando o Brasil. A empresa chinesa, que tem um histórico bastante conturbado por aqui, deixa o país com uma rejeição nunca antes vista por uma empresa de tecnologia e uma fama péssima, de modo que poucos sentirão saudades.

Não é possível afirmar, no entanto, que a fama é injusta. O Baidu apostou em algumas estratégias arriscadas de difusão de seus serviços que basicamente forçou sua entrada em computadores brasileiros.

Pode ser uma surpresa para muitos, mas o Baidu é uma empresa gigante e séria, comparada frequentemente ao Google na China. A empresa investe pesado em seu buscador, que é o favorito em seu país de origem, e possui múltiplos braços em vários setores da tecnologia, sendo, inclusive um dos líderes no desenvolvimento da tecnologia de carros autônomos. Julgando pela atuação da empresa no Brasil, no entanto, não é surpresa que muitos não saibam dessa faceta da companhia chinesa.

O primeiro problema da empresa no Brasil foi o Baidu Antivírus, o software de segurança digital desenvolvido pela companhia. Apesar de ser um produto real, o antivírus, que deveria combater malwares, possuía comportamento de um… malware. O sistema se aproveitava da pressa e falta de cuidado das pessoas ao instalarem novos softwares em seus computadores para se infiltrar nas máquinas como principal método de difundir os serviços do Baidu por aqui.

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A empresa se defendia afirmando que sempre havia uma opção nos instaladores de evitar a infiltração dos produtos da empresa, mas que o público não tomava o cuidado necessário para se proteger. Em 2014, no auge da má-fama da empresa, o Olhar Digital chegou a questionar o CEO Yan Di sobre a prática, e a resposta foi incisiva. “As pessoas dão ‘avançar’, ‘avançar’ e ‘avançar’ sem ler, mas o Baidu sempre oferece a opção de não instalar o serviço”, falou. Fica evidente que a prática era parte importante da estratégia da empresa para popularizar seus serviços por aqui, mas o tiro saiu pela culatra. O Baidu acabou antagonizando o público brasileiro, mesmo alcançando 50 milhões de usuários em seis meses.

Uma outra empreitada do Baidu que deu muito errado no Brasil foi o Hao123, um portal online da empresa. Assim, como o antivírus, o Baidu se utilizou de técnicas pouco éticas para fazer com que a página se tornasse a tela inicial de navegadores por todo o Brasil. A técnica era a mesma: embutir o serviço nos instaladores de outros programas e apostar na inocência dos usuários para torná-lo a página inicial de seus navegadores.

Esses cenários não seriam tão complicados se não fosse o fato de que a remoção destes serviços  era muito difícil. Técnicos de informática pelo Brasil todo começaram a receber computadores para reparos simplesmente porque o público comum se irritava com o Hao123 e não fazia ideia de como removê-lo de suas máquinas, o que, novamente, é um comportamento típico de malwares, ainda que os softwares não fossem usados de forma maligna. Para referência: uma das matérias mais lidas de 2014 do Olhar Digital foi “Como remover o Hao123 do seu computador”.

Diante da reação negativa do público sobre seus serviços e sua estratégia, o Baidu finalmente percebeu em 2015 que sua estratégia só gerava rejeição, ainda que fosse efetiva para inflar os números da empresa. A companhia chinesa chegou a apostar na popularidade do canal Porta dos Fundos e usou o ator Rafael Infannte como garoto-propaganda para tentar minimizar os danos à sua imagem, lançando uma campanha para que os produtos da empresa fossem usados de forma voluntária, e não mais forçada.

A campanha não deu resultados, no entanto. O Baidu chegou a parar de utilizar a tática de embutir seus serviços em instaladores de outros softwares, mas a má-fama prosseguiu enquanto a empresa se manteve em atuação no Brasil. Mesmo depois de encerrar suas atividades por aqui, o meme do “Baidu foi instalado com sucesso” dificilmente morrerá e sempre será lembrado quando algum feito da companhia chinesa for noticiado, por mais impressionante que ele seja.