O que define uma empresa de sucesso? O tanto de lucro que ela gera? Seria o pensamento mais lógico, mas, no mundo da tecnologia, isso curiosamente não é necessariamente verdade. Algumas das maiores empresas que conhecemos passaram anos perdendo rios de dinheiro, e algumas estão nessa toada até hoje.

Isso não significa que seus negócios vão mal, no entanto. Especialmente na cultura do Vale do Silício, mais importante do que lucrar nos primeiros anos de operação é fazer o negócio crescer e atingir muitos usuários. Ganhar reconhecimento do público e, preferencialmente, conseguir tirar concorrentes do caminho pode ser mais importante em um primeiro momento do que fazer dinheiro imediato.

É o caso destas empresas enormes mencionadas abaixo. São companhias que reportam prejuízos colossais frequentemente, mas não chegam a se abalar.

Uber

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A Uber é provavelmente um dos maiores sifões de dinheiro que a humanidade conhece. Ano após ano, a companhia reporta perdas bilionárias. Em 2016, por exemplo, a companhia fechou o ano com prejuízo próximo dos US$ 3 bilhões; já em 2017, as perdas aumentaram para US$ 4,5 bilhões. Em 2018, as coisas melhoraram, mas não a ponto de a empresa fechar o período no azul: as perdas ainda ficaram na casa de US$ 1,8 bilhão. São cerca de US$ 9 bilhões perdidos em apenas três anos.

Isso não significa que os negócios vão mal. As receitas da companhia aumentam consideravelmente ano após ano, chegando a US$ 11,3 bilhões ao longo de 2018, e a tendência é de crescimento. As perdas são referentes aos custos de expansão, e são bancadas graças a investimentos volumosos de investidores que buscavam participação na companhia e também graças ao recente IPO da empresa, que levantou quantias bilionárias para manter sua operação por um bom tempo.

Em algum momento, a Uber precisará começar a ter resultados positivos, no entanto. Até então, isso não aconteceu. A empresa não pode queimar dinheiro de investidores para sempre.

Spotify

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O Spotify é um dos aplicativos mais queridos do mundo, liderando com folga o mercado de streaming de música. Ao mesmo tempo, a empresa conseguiu acumular prejuízos gigantescos ao longo de sua vida.

Apenas em fevereiro de 2019 a empresa anunciou seu primeiro trimestre com lucro operacional, o que parece mais um acaso do que um sinal de que as coisas estão melhorando. A própria empresa anunciou que as projeções para o resto do ano ainda são de mais perdas. O lucro trimestral de 94 milhões de euros deve ser ofuscado por um prejuízo total entre 200 milhões e 360 milhões de euros no ano inteiro.

A situação é curiosa porque a empresa tem mais de 200 milhões de usuários, sendo mais de 100 milhões deles pagantes. No entanto, o Spotify é pressionado especialmente pela indústria fonográfica, que exige pagamentos pesados de royalties pela execução de conteúdo protegido por direito autoral.  

A empresa segue crescendo bem, e isso pode trazer resultados positivos mais para frente. Por enquanto, o Spotify é deficitário sem previsão de reversão dessa situação no curto prazo.

Nubank

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Sim, não é só no Vale do Silício que vemos essa situação das empresas que torram dinheiro em prol da expansão. O Nubank, uma das principais startups brasileiras também passa por situação similar, perdendo muito dinheiro anualmente, mas sustentado pelo capital de investimentos externos.

O Nubank anunciou que fechou 2018 acumulando um prejuízo de R$ 100,3, o que é positivo ou negativo, dependendo do prisma. A parte negativa, claro, é a própria perda; já a positiva é que o prejuízo diminuiu 14,3% em comparação com 2017, ao mesmo tempo em que as receitas dispararam em 117% (chegou a R$ 1,23 bilhão), o que indica que a empresa está caminhando bem em seu caminho para a lucratividade.

Em 2017, o prejuízo foi de R$ 117 milhões, e em 2016 foi de R$ 122 milhões. Os números mostram uma redução constante no prejuízo, enquanto a empresa aumenta consideravelmente em tamanho, o que deve ser visto de forma positiva.

No fim das contas, esse sistema tem funcionado bem para o Nubank, que já anunciou expansão para a Argentina e para o México. Parece questão de tempo para a empresa começar a trazer lucro.

Twitter

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O Twitter é um caso interessante. A empresa está no pior mercado possível: o de redes sociais, que é basicamente monopolizado pelo Facebook, o que fez com que a empresa passasse anos perdendo rios de dinheiro.

Para se ter uma ideia do dinheiro perdido pelo Twitter, a companhia existe desde 2006, mas só anunciou seu primeiro ano lucrativo em 2018, quando fechou o período com ganhos de US$ 1,2 bilhão.

Não há uma explicação clara para definir como a empresa que passou tanto tempo perdendo dinheiro conseguiu dar a volta por cima. Uma métrica que pode ajudar a entender essa virada foi o crescimento do engajamento dos usuários.

Curiosamente, existe um personagem que não está diretamente ligado ao Twitter que assume a responsabilidade pelo momento positivo da empresa: Donald Trump. O empresário e presidente dos Estados Unidos alega que seu uso da rede social ajudou a popularizar a plataforma, atraindo mais atenção do público e dos anunciantes. E não há como negar que a forma como Trump usa o Twitter, no mínimo, ajudou a definir uma nova forma de fazer política na internet, tendo como discípulo o presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Agora é ver se esse bom momento é sustentável. O engajamento dos usuários do Twitter pode ter crescido, mas a empresa ainda sofre com uma redução de sua base total de usuários que pode vir a causar transtornos mais para frente.

Amazon

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A Amazon é o maior exemplo de que vale a pena gastar (MUITO!) dinheiro para ganhar dinheiro. Inclusive, se existe uma cultura no Vale do Silício de que a ausência de lucros não é um problema, muito disso se deve ao sucesso da Amazon.

Fundada em 1994, a empresa só foi ter seu primeiro trimestre lucrativo em 2001. Já o primeiro ano inteiro de lucro só veio em 2003. Mesmo depois disso, a empresa oscilou, por muitos anos, entre trimestres no azul e no vermelho como resultado de investimentos gigantescos em expansão.

Não há como dizer que a estratégia estava errada. A Amazon acabou de ser considerada a marca mais valiosa do mundo, chegou a superar US$ 1 trilhão em valor de mercado e anunciou em abril deste ano o seu trimestre mais lucrativo de sua história, colhendo os frutos dos investimentos feitos no passado.

Para se ter uma ideia de como as coisas eram e como elas estão hoje em dia, em abril, a empresa anunciou um lucro de US$ 3,6 bilhões. Desde que a Amazon abriu seu capital, em 1997, e começou a anunciar seus resultados trimestrais, a empresa lucrou um total de aproximadamente US$ 7 bilhões até 2017. Isso significa que apenas só no último trimestre fiscal, a Amazon lucrou metade de tudo aquilo que ganhou nos seus primeiros 20 anos de operação.

Nada mal para uma empresa que era apenas uma livraria online, não?

WhatsApp

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O WhatsApp é hoje o maior aplicativo de mensagens do planeta, com mais de 1,5 bilhão de usuários, o que faz dele uma máquina de fazer dinheiro em potencial. No entanto, o Facebook encontrou algumas barreiras para conseguir monetizar toda essa base de usuários e recuperar os cerca de US$ 20 bilhões investidos na sua aquisição.

O modelo de negócios inicialmente pensado pelos seus fundadores, que previa o pagamento de US$ 1 ao ano, não se mostrou escalável o suficiente para o Facebook, que decidiu extingui-lo assim que foi possível. Desde então, o WhatsApp passou a não gerar qualquer tipo de receita direta.

A vantagem do WhatsApp em comparação com as outras empresas mencionadas previamente é estar sob o guarda-chuva de uma empresa gigantesca, que pode assumir os custos da operação sem quebrar o cofrinho. Assim, seria possível manter a operação deficitária indefinidamente, enquanto o Facebook achar interessante.

No entanto, isso está mudando aos poucos. O WhatsApp Business foi uma das formas encontradas pelo Facebook de monetizar o aplicativo, oferecendo ferramentas específicas para empresas. Além disso, também estão chegando os anúncios nos “Status”, como são chamados os Stories do WhatsApp. Resta saber se essas fontes de renda serão o bastante para cobrir os custos.