Uma nova tendência no mercado de smartphones vem ganhando cada vez mais força. Começou com a chinesa LeEco, depois veio a Motorola, seguida pela Apple e mais recentemente pela HTC. Em breve, todos (ou quase todos) os principais celulares top de linha do mercado chegarão às lojas sem entrada para fones de ouvido.

Quando a Apple anunciou seu iPhone 7 sem a tradicional porta P2 de 3,5 milímetros, a justificativa de Phil Schiller, chefe de marketing da empresa, se resumiu a uma palavra: “coragem”. Segundo ele, a conexão analógica vem sendo usada há quase 100 anos, e removê-la liberaria mais espaço para novas tecnologias dentro do iPhone.

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Seja qual for o real motivo, fato é que algumas das principais fabricantes do mercado já aderiram à tendência. Por enquanto, os usuários se veem com duas opções: usar um fone de ouvido de conexão diferente (Lightning, no caso do iPhone, USB-C, no caso do Moto Z), um adaptador ou um fone sem fio. Eis onde entram os AirPods.

Junto com o iPhone 7, a Apple também revelou seu primeiro par de fones de ouvido wireless. Os AirPods causaram certo alvoroço pelo visual – parecem fones comuns, só que sem os fios – e pelo preço – US$ 160 nos EUA, R$ 1.399 no Brasil. Será que eles valem a pena? Confira nossas impressões sobre os acessórios logo abaixo.

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Design e ergonomia

Em quase todos os seus produtos, a Apple sempre se orgulhou por apostar em princípios de design minimalistas, como cantos arredondados, contornos suaves, cores brandas e medidas enxutas, colocando sempre a praticidade em primeiro lugar. No caso dos AirPods, isso não é diferente.

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Em termos de design, não há como reclamar dos acessórios. Os AirPods são esteticamente muito simples, sem linhas extravagantes ou cores chamativas. Brancos e com o formato de fones comuns, eles fazem questão de passar despercebidos, tanto pelo usuário quanto por quem os observa na rua.

Não há como fugir da sensação de estranheza, porém. Por mais que pareçam fones comuns, é fácil sentir como se algo estivesse faltando nos AirPods, sejam os fios ou qualquer outro tipo de alça de segurança. É uma mistura de simplicidade com extravagância, já que são, provavelmente, os únicos fones de R$ 1.400 que não fazem questão de mostrar que custaram R$ 1.400.

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De forma semelhante, em termos de ergonomia, é difícil chegar a uma conclusão. Nos meus testes, os fones ficaram bem firmes na minha orelha e não deram sinais de que poderiam cair em qualquer momento. Mas a experiência não foi a mesma entre os outros membros da equipe do Olhar Digital.

Fato é que a Apple apostou numa estratégia de “um tamanho só serve para todos”, mas não é assim que funciona a anatomia humana. Algumas pessoas têm orelhas maiores, outras têm orelhas menores, tudo depende da natureza. Portanto, podemos dizer que os AirPods não são para qualquer um, mas apenas para quem teve a sorte de nascer com as medidas auriculares ideais para carregá-los.

Recursos

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O que um AirPod tem que qualquer outro fone de ouvido não tem? Alguns recursos bem interessantes, mas nada de revolucionário. O primeiro e mais óbvio deles é o estojo onde cada fone fica armazenado, chamado pela Apple de Charging Case. O dispositivo tem esse nome porque, além de guardar os AirPods, serve também para recarregar suas baterias.

A caixinha, que mais parece uma embalagem de fio dental, segue o mesmo minimalismo dos fones e pode ser recarregada por um cabo Lightning. O curioso é que o pacote dos AirPods não vem com o plug de tomada, forçando o usuário a conectar a case no PC ou no carregador do seu celular.

O padrão de conexão é Bluetooth, e não uma tecnologia proprietária da Apple, o que significa que os fones podem ser usados por outros aparelhos além do iPhone. Para fazer o pareamento com um celular Android, por exemplo, o processo é bem simples: basta abrir a caixinha, pressionar um botão na parte de trás e esperar que o smartphone, com o Bluetooth ligado, reconheça os acessórios. É no iPhone, porém, que a mágica acontece.

O processo é semelhante na primeira vez que você parear os AirPods com seu celular Apple, mas todas as próximas vezes são bem mais simples. Basta abrir a case com os fones dentro e ver uma mensagem surgir na tela do iPhone indicando que os dispositivos já estão conectados. Por essa mesma notificação, é possível conferir o status da bateria dos fones e da case.

Além de reproduzir todo tipo de mídia, os AirPods também vêm com microfones. Isso permite que você os utilize para atender e realizar chamadas, gravar áudios ou mesmo falar com a assistente virtual Siri: tudo sem encostar no celular. Dependendo de qual versão do Android e do modelo do seu celular, é possível usar os AirPods para acionar o Google Now também.

Os fones ainda vêm equipados com acelerômetros e sensores ópticos. Com isso, basta tirá-los dos ouvidos para que a música em reprodução seja pausada automaticamente. É possível também dar dois toques rápidos em um dos fones para ativar a Siri, caso os AirPods estejam conectados ao iPhone. No Android, esse toque duplo não tem utilidade.

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Tudo funciona bem, do jeito que a Apple promete no marketing dos produtos. Até as limitações na conexão dos fones com Android são compreensíveis, visto que a empresa tem o hábito de complicar a vida da concorrência. Se tudo isso vale R$ 1.400 mil? Falaremos disso mais adiante.

Performance

O principal (e em muitos casos, o único) motivo que faz alguém comprar um fone de ouvido, seja ele wireless ou não, é poder ouvir música. Por mais recursos que ele possa ter, é imprescindível que um fone do preço dos AirPods reproduza áudio de maneira mais do que satisfatória.

O que acontece aqui é quase isso. O áudio transmitido pelos AirPods é muito bom para um fone desse tamanho e sem fios. É possível discernir as múltiplas camadas de sons em músicas com muitos instrumentos acústicos, por exemplo, enquanto a sensação tridimensional de canções ao vivo é preservada com qualidade cristalina.

Os graves são fortes o bastante para dar mais corpo a uma música agitada, mas não o suficiente para incomodar os usuários mais puristas nesse quesito. Em suma, a qualidade do áudio é ligeiramente melhor do que a dos EarPods, os fones tradicionais com fio da Apple. Ou seja, se você gosta dos EarPods, vai gostar dos AirPods.

O que não é, necessariamente, uma boa notícia. Afinal, por R$ 1.400 você pode comprar um headphone com cancelamento eletrônico de ruído, bem mais ergonômico e com um áudio muito mais exuberante. A performance dos AirPods, nesse quesito, não passa muito longe da de um fone mais barato.

O que merece elogios, porém, é a bateria do kit. Tanto os fones quanto a case em que eles são guardados têm uma autonomia invejável. Nos nossos testes, usando os AirPods por cerca de três horas por dia, e guardando-os dentro da case enquanto eles não eram usados, a bateria continuou acima dos 80% por quase uma semana inteira.

Só não se pode dizer exatamente o mesmo do estojo onde os fones são guardados. Em apenas dois dias, já tivemos que conectá-lo ao carregador. Mas como a case só serve mesmo como armazenamento e fonte de carga, não há problema em ter de carregá-la com uma frequência um pouco maior. Em suma, o maior medo de quem anda com fones sem fio – ficar sem bateria de repente, no meio de uma música – passou longe na nossa experiência com os AirPods.

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Conclusão

Avaliando alguns aspectos-chave, não há como negar que os novos fones sem fio da Apple são um grande acerto, principalmente em termos de praticidade, simplicidade e eficiência. Em linhas gerais, seria fácil recomendá-los se não fosse por um quesito primordial no momento da compra de um novo par de fones: o preço.

A etiqueta de R$ 1.400 nos AirPods até pode assustar, mas não chega a ser uma grande surpresa se considerarmos que seu principal concorrente, o Gear IconX, da Samsung, custa exatamente o mesmo. Se estendermos essa comparação a todo o mercado de fones de ouvido, porém, esse preço já pode ser considerado um tanto exagerado.

Isso porque os AirPods se esforçam muito pouco para justificar o valor cobrado. Além do Bluetooth, não há nada muito mais chamativo nos fones. O áudio é de alta qualidade, mas não é tão surpreendente assim. Fones da mesma faixa de preço, como comentado anteriormente, podem apresentar performances muito superiores, com maior poder de isolamento e, no caso de headphones on-ear ou over-ear, por exemplo, com muito mais ergonomia.

Também faltou à Apple inspiração para ir além do básico em termos de recursos inéditos. Os controles de gestos, por exemplo, poderiam ter sido muito melhor explorados, permitindo que o usuário fizesse muito mais tocando nos fones, sem tirar o celular do bolso. Mas só o que se pode fazer tocando os AirPods é acionar a Siri, o que não chega a ser algo tão útil assim.

O fato de que os fones são extremamente limitados se usados com Android ou outros dispositivos também reforça a ideia de que a Apple não os encara como produtos independentes, mas sim como acessórios para iPhone. E, convenhamos, pagar R$ 1.400 num par de acessórios que pode talvez nem entrar facilmente na sua orelha parece um arriscadíssimo tiro no escuro.

A Apple parece acreditar sinceramente que o futuro reserva ao mercado o fim das conexões analógicas e uma “revolução wireless” na forma como consumimos mídia nos nossos celulares. Mas se o futuro é mesmo sem fio, o preço dos AirPods parece querer fazer com que esse futuro demore um pouco mais para chegar às mãos da maioria dos usuários.