Ninguém pode conseguir 2,23 bilhões de amigos sem fazer alguns inimigos. Essa é uma pequena variação no slogan do filme “A Rede Social”, longa de 2010 dirigido por David Fincher que conta como Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) enganou e traiu muita gente para construir um império: o Facebook.

O preço desse império está sendo cobrado agora. Numa sequência de menos de 12 meses, o Facebook se meteu num mar de escândalos e polêmicas que colocam em dúvida a capacidade da empresa criada e chefiada por Zuckerberg de tratar de maneira segura e justa os dados desses 2,23 bilhões de usuários mensais.

Todos esses problemas têm deixado danos onde mais importa: no bolso da empresa. O crescimento no número de usuários do Facebook desacelerou, assim como a receita proveniente de anúncios. E a trajetória esperada pelos acionistas é de mais quedas, levando em conta as despesas do conglomerado.

Pensando nisso, relembre nos parágrafos abaixo todas as principais polêmicas e escândalos nos quais o Facebook se meteu nos últimos tempos.

publicidade

-> Tudo sobre o Facebook: história e dicas de segurança para usar a rede social!
-> Como entrar no Facebook: problemas comuns e dicas de login

Interferência russa nas eleições dos EUA

O que começou com uma investigação de agências federais terminou com uma confissão de culpa de Zuckerberg. No ano passado, descobriu-se que pessoas e entidades russas pagaram mais de US$ 100 mil ao Facebook para promover anúncios na rede social destinados a influenciar as eleições de 2016 nos EUA.

A Justiça dos EUA indiciou 13 indivíduos russos pela tentativa de interferência. Os anúncios pagos tentavam denegrir a imagem de certos políticos e melhorar a imagem de outros. Os russos tiraram proveito de uma ferramenta razoavelmente simples do Facebook e que é chave para o financiamento da empresa.

Fake news

Ainda em torno das eleições de 2016 nos EUA, a quantidade de notícias falsas detectadas circulando pelo Facebook na ocasião também deixou a empresa em maus lençóis. Há diversos estudos que mostram que a maior parte do conteúdo compartilhado entre usuários em momentos políticos importantes é de “fake news”.

O Facebook passou a implementar uma série de sistemas de controle para tentar reprimir este fenômeno. A empresa fechou parcerias com agências de checagem no mundo todo, aumentou o número de profissionais responsáveis por analisar conteúdo postado e até começou a empregar algoritmos para detectar e remover fake news da plataforma mais rapidamente.

No Brasil, o combate às notícias falsas fez com que 196 páginas e 87 perfis fossem apagados da rede social por “gerar divisão e espalhar desinformação”. Alguns dos grupos afetados, como o Movimento Brasil Livre (MBL), chegaram a organizar protestos cobrando o Facebook por mais transparência na hora de apagar contas.

Cambridge Analytica

Um dos maiores escândalos do ano, porém, talvez seja o da Cambridge Analytica. Este é o nome de uma empresa de marketing que teve acesso a dados de 87 milhões de usuários do Facebook indevidamente, sem que muitos deles soubessem e sem que a própria rede social tivesse lhes dados permissão.

Um professor de psicologia desenvolveu um aplicativo que faz um teste de personalidade do usuário. Esse app precisa ter acesso ao perfil no Facebook do usuário que quiser participar. O problema é que os dados dessa pessoa e os dados dos seus amigos não eram coletados para o professor, e sim para a empresa Cambridge Analytica.

A empresa usou essa informação privilegiada para direcionar anúncios no Facebook. A rede social até ficou sabendo do vazamento e ordenou que a empresa apagasse os dados coletados – mas nunca foi até lá conferir se eles tinham mesmo sido apagados. Dos 87 milhões de usuários afetados, havia, pelo menos, 440 mil brasileiros.

Saída de fundadores

O Facebook é dono de outros dois aplicativos muito populares no mundo todo: o Instagram, com seus 1 bilhão de usuários mensais, e o WhatsApp, com 1,5 bilhão. Os dois apps foram comprados de startups menores e que chamaram a atenção de Zuckerberg. Mas a relação com o bilionário não parece ser muito tranquila.

Brian Acton, um dos criadores do WhatsApp, vendeu sua criação ao Facebook em 2014 por US$ 19 bilhões. Ficou na empresa por mais três anos até sair. Meses depois, Jan Koum, o outro cofundador, também saiu. E mais recentemente, os dois fundadores do Instagram, Kevin Systrom e Mike Krieger, também saíram.

Em comum nos quatro casos: uma relação conturbada com Zuckerberg. Acton, após deixar para trás o WhatsApp, aderiu à campanha “Delete o Facebook”. Depois fez críticas ao ex-patrão numa entrevista à Forbes. Systrom e Krieger não admitiram (ainda), mas há relatos na imprensa de que a chefia do Facebook estava se metendo cada vez mais no Instagram, contra a vontade deles.

50 milhões hackeados

Por fim, veio um dos escândalos mais graves: 50 milhões de usuários hackeados, 90 milhões de contas potencialmente afetadas, tudo graças a uma grave falha de segurança descoberta no mês de setembro relacionada ao “ver como”, recurso que permite ao usuário visualizar como fica o seu perfil para desconhecidos, amigos de amigos ou amigos da rede social.

Segundo o Facebook, uma vulnerabilidade do código na rede social permitiu que esse recurso fosse usado para roubar tokens de acesso às contas. Os tokens são chaves digitais que permitem que os usuários se mantenham logados na rede social sem precisar digitar sua senha todas as vezes que acessam o site ou aplicativo. Usando esses dados, os hackers podem ter acessado indevidamente as contas de vários usuários, sem precisar descobrir a senha.

O comunicado da falha diz que o Facebook tem certeza que 50 milhões de contas foram afetadas. Os tokens dessas contas foram todos invalidados, o que, na prática, fez com que estes usuários precisassem refazer seus logins para se conectar à rede social. Por precaução, o Facebook também invalidou os tokens de outras 40 milhões de contas que usaram o “Ver Como” no último ano, mesmo sem evidências de ataque.

Diante desta situação, o Facebook também desativou o recurso “Ver Como” temporariamente para analisar melhor a vulnerabilidade. A empresa diz que, por estar em uma etapa inicial de investigação, não há como saber ainda se o roubo destes tokens permitiu que as contas atingidas fossem utilizadas para algum fim indevido, ou se as informações das vítimas foram acessadas. Da mesma, a empresa ainda não sabe apontar quem são os responsáveis pelo ataque.