Já fazia algum tempo que não se ouvia falar dele, mas hoje Julian Assange foi preso pela Polícia Metropolitana de Londres. Os policiais entraram na embaixada do Equador, na capital inglesa, onde Assange vivia há quase sete anos, e o tiraram de lá já algemado. Isso porque o país decidiu retirar o status de asilo que havia concedido a ele.

Há chances de que ele seja, em breve, extraditado para os EUA. O governo norte-americano o acusa de conspirar para cometer invasão de computador — afinal, Assange concordou em descobrir a senha do Departamento de Defesa dos EUA para que Chelsea Manning, uma ex-analista de inteligência do exército, pudesse ter acesso a documentos sigilosos.

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Veja, a seguir, 7 fatos importantes da história de Julian Assange.

1. Por que Julian Assange era procurado inicialmente

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Depois de criar o WikiLeaks, em 2006, e passar a divulgar inúmeros documentos confidenciais que envolvem governos, empresas e indivíduos de todo o mundo, Julian Assange se tornou um personagem polêmico e muito observado. Em agosto de 2010, um mês depois de expor documentos secretos do exército norte-americano sobre a guerra do Afeganistão, teve dois mandados de prisão expedidos pela Justiça da Suécia, um por estupro e um por agressão sexual.

2. Como ele apareceu perante a Justiça em Londres

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A justiça sueca retirou a ordem de prisão pouco depois de expedi-la, mas em seguida reabriu os processos e pediu à Interpol que capturasse Assange para extraditá-lo. A organização, então, emitiu uma notificação vermelha (algo como um mandado de prisão internacional), em 30 de novembro de 2010, para 188 países em busca do acusado.

Uma semana depois, ele se apresentou à Polícia Metropolitana de Londres e foi preso. Mais sete dias e Assange passou por uma audiência, que garantiu sua libertação mediante o pagamento de fiança de £ 200 mil. Em 16 de dezembro de 2010, ele foi solto em liberdade condicional: teve de entregar seu passaporte e ficou obrigado, até a próxima audiência, a respeitar o toque de recolher e a usar tornozeleira eletrônica.

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3. Por que ele se refugiou na embaixada do Equador em Londres

Pouco mais de dois meses depois, em 24 de fevereiro de 2011, foi determinada sua extradição para a Suécia. Assange, então, optou por contestar a decisão e levar o caso à corte suprema do Reino Unido — que confirmou a sentença em 31 de maio de 2012. Em 19 de junho do mesmo ano, ele se refugiou na embaixada do Equador em Londres, em busca de asilo político.

4. Por que seu status de asilo foi retirado pelo Equador

Lenín Moreno, presidente do Equador, diz, em vídeo publicado no Twitter, que Assange transgrediu tratados internacionais. Além disso, o acusado teria bloqueado câmeras de segurança, mexido em documentos da embaixada sem permissão e, por meio do WikiLeaks, tentado interferir na política de diversos países — o que coloca em risco o relacionamento do próprio Equador com essas nações.

Desde março de 2018, quando a embaixada tornou o acesso de Assange à internet mais restrito, ele reclamava que havia sido isolado do mundo. Já no fim do ano, o órgão estabeleceu novas regras e pediu, entre outras coisas, que ele se abstivesse de fazer comentários políticos. A gota d’água, porém, veio há dois dias: na terça-feira, os advogados de Assange reuniram a imprensa para dizer que o Equador o estava espionando ilegalmente.

5. Por que há toda essa comoção em torno do WikiLeaks

O site fundado por Assange é responsável por divulgar conteúdo sigiloso sobre os mais diversos temas — de governos a indivíduos, passando por empresas de todos os portes. Confira, a seguir, algumas das polêmicas!

Ataque no Iraque

Imagens mostram 15 pessoas sendo mortas por um atirador norte-americano a partir de um helicóptero. Entre as vítimas estavam dois jornalistas da Reuters. Durante o ataque, os tripulantes da aeronave dizem “continue atirando, continue atirando”.

Descarga de resíduos da Trafigura

Em 2006, a Trafigura despejou mais de 500 toneladas de resíduos na Costa do Marfim. O material foi deixado na capital Abidjan, uma cidade com 4 milhões de habitantes — o que configura uma verdadeira catástrofe ambiental. Um relatório escrito pelo consultor John Minton, e apresentado no WikiLeaks, indica que esse material pode causar queimaduras graves na pele e nos pulmões, ulceração permanente, danos à córnea, vômitos, diarreia e até morte.

E-mails de Sarah Palin

A ex-governadora do Alaska viu sua privacidade exposta no WikiLeaks: foram dois e-mails, sua lista de contatos e uma série de fotos de família. Isso permitiu saber que ela usava sua conta pessoal para contatos oficiais — aparentemente para burlar as leis norte-americanas.

Comunicação de Hillary Clinton

A exposição de mais de 19 mil e-mails da campanha da política norte-americana mostrou negociações pouco éticas. Isso ocorreu durante a corrida presidencial de 2016, que ela perdeu para Donald Trump.

Presidente Dilma e a ditadura

O WikiLeaks revelou um telegrama confidencial da diplomacia norte-americana que continha relatos sobre a atuação de Dilma na ditadura. O material era recheado de informações sobre sua suposta participação em assaltos a bancos e ações armadas durante aquele período.

6. O que deve acontecer agora com Assange

Segundo o advogado Felipe Barreto Veiga, sócio do BVA Advogados, é difícil saber. Com informações ainda restritas — já que, apesar de toda a exposição, é um caso superconfidencial —, não está claro se o processo foi iniciado pelo governo britânico ou pelo norte-americano. O Departamento de Imigração do Reino Unido confirmou que Assange foi preso em razão de um pedido de extradição.

Veiga ressalta, entretanto, que o ativismo a favor dos direitos de privacidade perdeu um personagem importante. “Com essa perda de liberdade, a causa que ele defende sofre um grande abalo”, avalia. “E o fato de não haver manifestantes acompanhando o momento da prisão é bastante sintomático. Talvez signifique que o cidadão já não se importa tanto com o tema.”

O advogado destaca que não é possível afirmar que a prisão de Assange seja política, mas que, certamente, há aspectos políticos envolvidos. “São temas sensíveis, que atingem a soberania nacional, e, por isso, o tornam inimigo declarado dos países atingidos.”

7. O que diz o governo britânico

Segundo o presidente do Equador, o governo britânico confirmou por escrito que não vai extraditar Assange para um país que use tortura ou pena de morte. Quem define, nesse caso, se um acusado corre o risco de ser condenado à pena de morte — e, com base nisso, se deve ou não ser extraditado — é o secretário de Imigração do Reino Unido.