A polêmica disputa sobre o financiamento do muro entre EUA e México – que causou a mais longa paralisação do governo federal norte-americano – ganhou um novo capítulo: uso de drones. Muitas fabricantes do aparelho acreditam que ele seja opção inevitável para a proteção da divisa e ajudaria a Patrulha de Fronteira dos EUA a enxergar mais longe e se comunicar melhor.

Esse movimento se fortaleceu depois de o presidente Donald Trump declarar nesta sexta-feira, 15, emergência nacional para financiar a construção do muro. Agora, empresas produtoras de drones esperam faturar com a venda dos dispositivos para aplicação nas fronteiras. Isso porque, na prática, a declaração dá a Trump a permissão para usar fundos federais sem aprovação do Congresso Americano.

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A decisão do presidente veio mesmo depois de o Congresso aprovar na quinta-feira, 14, lei de orçamentos que inclui US$ 1,3 bilhão para o projeto do muro. Entre outras coisas, o projeto incluia “tecnologia de ponta ao longo da fronteira para melhorar a consciência situacional”.  Se assinada por Trump, a legislação poderia evitar nova paralisação do governo.

O projeto, no entanto, não incluía a exigência de Trump de US$ 5,7 bilhões para as obras. Por isso, o presidente considerou a lei insuficiente e declarou o estado de emergência.

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Segundo os defensores da proposta, drones facilitariam a diferenciação de imigrantes e contrabandistas que rondam a fronteira. Fabricantes desses dispositivos como a Tactical Micro, a Fortem Technologies, a AeroVironment, a PrecisionHawk e a Aria Insights, apoiam a proposta.

“Essa poderia ser a solução do século 21 para o problema de proteger as fronteiras”, disse Chris Eheim, engenheiro aeroespacial e diretor de tecnologia da Sunflower Labs, uma startup de segurança doméstica. A agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA já usa alguns drones militares grandes e barulhentos, mas a inovação moderna deste tipo de dispositivo poderia equipar os oficiais com aeronaves menores e mais baratas que poderiam ser colocadas atrás de um caminhão.

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O deputado democrata da Carolina do Sul, James Clyburn, apoiou a ideia em um artigo de opinião mês passado ao site The Hill quando sugeriu um “muro inteligente. A parede de Clyburn usaria drones e sensores para criar “uma barreira tecnológica muito alta para se escalar, muito larga para dar a volta e muito profunda para se cavar”.

“Os drones são um ajuste natural para a segurança nas fronteiras”, disse Diana Cooper, vice-presidente sênior da PrecisionHawk, empresa que vende ferramentas de gerenciamento desses dispositivos. Ela argumenta que é “muito mais fácil retocar um drone do que um satélite”.

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Além disso, drones são uma tendência nas fronteiras que já está nos planos de uso de muitas agências de aplicação de leis.

Usá-los na fronteira internacional marcaria a mais recente expansão desses veículos não tripulados. Corretores de imóveis usam o dispositivo para criar vídeos promocionais espetaculares para propriedades, fotógrafos de casamento para tirar fotos panorâmicas de recém-casados e operadores de gasodutos para inspecionar sua infraestrutura.

A alfândega e a proteção de fronteiras não comentaram sobre as possibilidades de uso de drones na fronteira entre Méxio e EUA.

Alta tecnologia e invasão de privacidade

Por outro lado, alguns grupos ativistas não estão satisfeitos com a vigilância em massa nas fronteiras possibilitada por drones e outros mecanismos, como reconhecimento facial e impressões digitais. Vários grupos ativistas de direitos humanos e liberdades individuais dos Estados Unidos entregaram milhares de assinaturas aos democratas na quinta-feira, 14, de pessoas que se opõem à tecnologia.

Em uma carta Congresso na semana passada, grupos disseram a casa legislativa não deveria ampliar o financiamento para a tecnologia de fronteira e que os cidadãos de outros países também deveriam estar preocupados. “Sabemos que a fronteira é frequentemente um campo de testes para a tecnologia de vigilância que é posteriormente implantada nos Estados Unidos. Isso representa uma séria ameaça aos direitos humanos e às liberdades constitucionais”, disse a carta.

Da mesma forma, Neema Singh Guliani, uma advogada da União Americana de Liberdades Civis, considera que vigilância constante em uma área pode custar riscos a privacidade e liberdades civis para residentes e viajantes em uma área de fronteira. Guliani já trabalhou no Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (ou DHS, na sigla em inglês).

“Muitos de nós teríamos objeções à infraestrutura de vigilância em nossas comunidades, que poderiam rastrear em todos os lugares que fôssemos, seja a um consultório médico ou a um local de culto”, argumentou a advogada. Para ela, o uso de drones na fronteira iria capturar uma grande quantidade de dados pessoais.

Estudos e votações no governo sobre a aplicação de drones na fronteira já levantava preocupações. Um relatório de 2018 do Government Accountability Office (que seria órgão similar à Controladoria Geral da União) encontrou problemas de privacidade com o uso de dados, assim como um relatório de 2014 não encontrou evidências de que os drones ajudaram na redução de custos de vigilância de fronteira e com a apreensão de pessoas que tentam atravessá-la ilegalmente.

Apesar da resistência dos grupos contrários à tecnologia, Cooper, a vice-presidente sênior da PrecisionHawk, aposta no monitoramento mais frequente do que acontece nos arredores das fronteiras, independentemente de como as diferenças políticas de hoje estão resolvidas. “Com parede ou não, o futuro dependerá de drones”, concluiu.

Drones Modernos

A Alfândega e Proteção de Fronteiras usa drones de estilo militar, grandes e barulhentos, que podem voar até 9 milhas, para procurar atividades ilegais como contrabando perto da fronteira.

Porém, os drones mais modernos, menores e mais baratos que as grandes alternativas militares, podem ser adaptados para usos específicos nas fronteiras. Possivelmente, os equipamentos não operariam isoladamente. Vários executivos viram seus produtos como um bom complemento para muros, cercas e outras barreiras físicas. Além disso, a nova tecnologia de sensores pode ajudar os agentes a saber onde posicionar os dispositivos.