A polêmica em torno dos dados de usuários do Facebook e o que a rede social faz com eles parece não ter terminado. Uma reportagem do jornal norte-americano The New York Times revelou que a empresa deu a fabricantes de celular acesso privilegiado a esses dados.

Segundo o NYT, tudo começou em 2008, quando o Facebook ainda estava começando a crescer. A empresa de Mark Zuckerberg fechou parcerias com fabricantes de hardware para que elas pudessem customizar a integração com o aplicativo da rede social.

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Os acordos foram feitos com mais de 60 fabricantes, incluindo Apple, Samsung, Microsoft, BlackBerry e muitas outras. O objetivo era permitir que essas empresas pudessem criar funções exclusivas de integração entre o smartphone e o app do Facebook.

O acesso privilegiado se dava por meio de APIs – conjuntos de códigos que facilitam a integração entre serviços na web. O Facebook oferece APIs públicas para quem quiser integrar apps à rede social, mas estas empresas receberam APIs privadas, customizadas para cada uma.

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Um exemplo citado pela reportagem do NYT é a BlackBerry. A empresa, que já foi uma das grandes fabricantes de celular do mundo, mas que hoje licencia o uso da marca para a chinesa TCL, foi uma das companhias com acesso privilegiado.

Usando uma API privada, a BlackBerry conseguiu criar um recurso de integração com o aplicativo Hub, exclusivo de smartphones da marca e que serve para agregar feeds de redes sociais num lugar só. No meio disso, a empresa também ganhou acesso a um grande volume de dados de usuários.

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Pela atual política de privacidade do Facebook, apps de terceiros só podem ter acesso aos nomes de amigos de um usuário. No entanto, o aplicativo Hub garante à BlackBerry acesso aos status e informações de perfil dos amigos de um usuário, além de informações sobre os amigos dos seus amigos.

Num experimento do NYT, a rede de perfis alcançados pelo aplicativo foi de 300 mil pessoas, bem mais do que a lista de 500 amigos do usuário que passou pelo teste do jornal. O NYT diz que o Facebook começou a acabar com esses acordos privados com fabricantes em abril deste ano, após o escândalo da Cambridge Analytica. Mas alguns ainda estão de pé, embora não se saiba quantos deles têm acesso irrestrito a dados.

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O outro lado

Em um comunicado publicado no blog oficial do Facebook, o vice-presidente de parcerias de produto da empresa, Ime Archibong, confirmou algumas das informações publicadas pelo NYT, mas negou que o acesso aos dados de usuários tenha saído do controle.

Segundo o porta-voz, essas APIs privadas foram criadas numa época em que lojas de aplicativos, como a App Store do iOS e o Google Play no Android, ainda não existiam ou não eram tão populares quanto hoje. Por isso, cada fabricante de celular tinha que criar sua própria maneira de reproduzir o Facebook em dispositivos móveis.

“Estes parceiros assinaram acordos que impediam que as informações no Facebook das pessoas fossem usadas para qualquer outro propósito que não o de recriar a experiência de uso do Facebook”, diz Ime. “Informações sobre amigos, como fotos, só eram acessíveis em dispositivos quando as pessoas tomavam a decisão de compartilhar informação com esses amigos.”

O Facebook ainda diz que já encerrou 22 das 60 parcerias citadas pelo NYT e que está trabalhando para reduzir ainda mais esse número. A empresa também negou que haja semelhança entre este caso e a polêmica em torno da Cambridge Analytica.