O Facebook diz ter recebido o recado sobre a importância da privacidade, e isso inclusive foi sinalizado nas mudanças recentes anunciadas para a rede social. Porém, uma nova reportagem do The Intercept revela o contrário: a companhia estaria compartilhando dados pessoais sensíveis com sua operadora de celular. A lista de informações vazadas é ampla e também inclui locais, interesses e grupos sociais.

De acordo com a matéria, um documento confidencial do Facebook revisado pelo jornal mostra que a plataforma social colabora com operadoras móveis e até fabricantes de celulares – cerca de 100 empresas diferentes em 50 países – ao oferecer o uso de dados de vigilância ainda maiores, retirados diretamente do seu smartphone pelo próprio Facebook. Entre os beneficiados estão parceiros seletos da companhia de Mark Zuckerberg.

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Conforme apontado acima, as informações incluem não apenas especificações técnicas sobre os dispositivos e quanto ao uso de redes móveis pelos usuários. Esses dados são obtidos através dos aplicativos da rede principal da empresa, seja para Android ou iOS, e também via Instagram e Messenger.

Uma aplicação para os dados sugeridos pelo Facebook pode até ser ilegal. Alguns especialistas estão particularmente alarmados com o fato de a empresa ter comercializado as informações – e parece ter colaborado para facilitar seu uso – com o objetivo de rastrear os clientes com fins lucrativos, para veiculação de anúncios. Tal atividade poderia potencialmente entrar em conflito com a lei federal, que regula rigorosamente as avaliações de crédito.

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A origem do problema

De acordo com o autor da reportagem, Sam Biddle, a ferramenta Actionable Insights foi anunciada no ano passado no blog de engenharia do Facebook. O artigo sugeria que o programa visava resolver as fracas conexões móveis em todo o mundo: “Estamos construindo um conjunto diversificado de tecnologias, produtos e parcerias projetados para expandir os limites de qualidade e desempenho da conectividade existente, catalisar novos segmentos de mercado e proporcionar melhor acesso aos desconectados.”

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O post do blog faz apenas uma breve menção do segundo propósito menos altruísta da Actionable Insights: “possibilitar melhores decisões de negócios” por meio de “ferramentas analíticas”. De acordo com materiais revisados pelo The Intercept e uma fonte diretamente familiarizada com o programa, o benefício real disso não está na sua capacidade de consertar conexões instáveis, mas de ajudar corporações seletas a usar seus dados pessoais para investir em publicidade direcionada.

Os dados são anonimizados e segmentam as pessoas por agrupamentos, porém, como observa Biddle, isso não garante que não possam ser abusados. O Facebook compartilhou dados pessoais com a Cambridge Analytica de uma forma a permitir sua atividade inapropriada para influenciar a eleição presidencial de Donald Trump e o referendo do Brexit no Reino Unido. Estes dois grandes escândalos colocaram as políticas de privacidade da companhia em xeque.

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Opt-out de reconhecimento facial ainda não está disponível para todos

Separadamente, a Consumer Reports aponta que nem todos os usuários do Facebook podem optar pela não-habilitação do reconhecimento facial. A revista norte-americana analisou as contas de 31 usuários do Facebook nos EUA e encontrou a configuração de reconhecimento facial ausente em oito das contas documentadas, pouco mais de 25%.

“Este foi um estudo pequeno e qualitativo, e não sabemos exatamente quantas pessoas estão sem a função de configurar habilitada. Mas podemos inferir que muitos usuários do Facebook podem ser afetados”, declara Bobby Richter, que lidera os testes de privacidade e segurança da Consumer Reports. A organização registrou uma queixa junto à Comissão Federal de Comércio dos EUA.

Fonte: The Intercept, 9To5Mac