O escândalo envolvendo a coleta de dados indevida do Facebook ganhou novos desdobramentos nesta terça-feira, 17. O número estimado até agora de que 87 milhões de pessoas (incluindo 440 mil brasileiros) foram atingidos pelo escândalo da Cambridge Analytica pode ser bem menor do que o número real.

Quem diz isso é Brittany Kaiser, uma ex-funcionária do departamento comercial da Cambridge Analytica. A empresa de marketing focada em campanhas políticas foi flagrada usando um app de personalidade para coletar dados de usuários do Facebook, sem que a rede social soubesse do real destino desses dados.

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O app usado pela Cambridge Analytica se chamava “This is your digital life”. Segundo Brittany, porém, este não foi o único aplicativo que a agência utilizou para ter acesso a dados pessoais de usuários. Por conta disso, o número total de pessoas atingidas pode superar os 87 milhões estimados até agora.

“Eu sei, num sentido geral, de diversas pesquisas que foram feitas pela CA ou suas parceiras, normalmente com logins do Facebook – por exemplo, o quiz da ‘bússula sexual'”, afirmou Brittany aos parlamentares do Reino Unido durante uma audiência nesta semana, segundo informações do The Verge.

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O tal “quiz da bússula sexual” é um desses apps de Facebook que viralizam de vez em quando, como “quem você é na série X” e “como seria sua aparência do gênero oposto”. O Olhar Digital frequentemente alerta para apps desse tipo que surgem de tempos em tempos e, com a permissão do usuário (que raramente lê os termos de uso) coletam seus dados pessoais.

Brittany afirma que o “quiz da bússula sexual” servia para “descobrir quais são suas preferências pessoais em privado” e também pode ter sido usado para coletar dados de usuários sem o consentimento do Facebook. Outro app citado por Brittany é um de “personalidade musical”.

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“Quando você entra no Facebook e vê um quiz de personalidade que viralizou, nem todos eles foram feitos pela Cambridge Analytica, pelo Grupo SCL [dono da agência] ou por nossos afiliados, mas esses aplicativos são feitos especificamente para colher dados de indivíduos usando o Facebook”, completou Brittany.

A diferença entre a maioria desses apps de teste de personalidade e o “This is your digital life”, que começou toda a polêmica, é que este último foi desenvolvido por um professor chamado Aleksandr Kogan. O Facebook não sabia que Kogan estava repassando os dados coletados para a Cambridge Analytica.

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Criar testes de personalidade em forma de app no Facebook não é errado por si só – o problema é quando nem a rede social e nem os usuários são informados a respeito do destino dos dados coletados pelos testes. Brittany afirma que, com certeza, o “This is your digital life” não foi o único a enganar o Facebook e seus usuários.

“É quase certo que o número de usuários do Facebook que tiveram dados comprometidos por rotas similares à usada por Kogan é muito maior do que 87 milhões”, disse Brittany. “E tanto a Cambridge Analytica quanto outras empresas e campanhas não relacionadas se envolveram nessas atividades.”