Após anos escutando analistas afirmando que deveria comprar a Netflix, a Apple decidiu criar a sua própria Netflix. Chamado de Apple TV+, o serviço teve seus detalhes finais confirmados, incluindo preço (R$ 10 mensais no Brasil) e data de lançamento (1º de novembro). O que a empresa também revelou é uma estratégia agressiva de difusão: quem comprar qualquer aparelho da Apple terá direito a um ano grátis de acesso ao serviço.

Considerando o volume de dispositivos que a Apple move anualmente, não seria surpresa se o Apple TV+ conquiste uma base de assinantes ainda maior que a Netflix logo no seu primeiro ano após seu lançamento.

Para referência, apenas durante o ano fiscal de 2018, a Apple vendeu 217,7 milhões de iPhones. Em 2019, a empresa têm tido dificuldades de manter o mesmo patamar de vendas, mas os números não devem ser tão diferentes assim, e o mesmo deve se repetir em 2020, o primeiro ano fiscal completo de operação do Apple TV+. Como aponta a agência Reuters, na visão dos especialistas de Wall Street, a expectativa para os próximos 12 meses prevê a venda de 130 milhões de unidades vendidas no mundo com exceção da China. Enquanto isso, a Netflix tem quase de 160 milhões de assinantes pelo mundo segundo os números mais recentes divulgados pela empresa.

Vale a pena notar também que a promoção de um ano gratuito se estende além do iPhone, mas também é válida para compradores de Apple TVs, iPads, iPods Touch e Macbooks, então tudo indica que a Apple terá com folga a maior base de usuários de um serviço de streaming de vídeo.

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E depois de um ano?

O problema para a Apple será manter essa base enorme de usuários fiéis ao seu serviço. Enquanto o acesso à plataforma for grátis, não há motivos para um comprador de um iPhone não conferir o que há de interessante disponível no catálogo. Quando o dinheiro efetivamente começar a sair do bolso das pessoas, as coisas ficam mais complicadas.

O grande desafio para a Apple será expandir seu catálogo para justificar o pagamento de uma assinatura mensal. Você pode até questionar a qualidade de boa parte do conteúdo disponível na Netflix, mas quantidade não é um problema, o que significa que você pode passar vários meses pagando mensalidade sem esgotar o catálogo. Não é possível dizer o mesmo sobre o Apple TV+ até o momento.

No lançamento do Apple TV+, a empresa só terá oito seriados, um documentário e um programa de entrevistas. Por mais que o conteúdo possa ser excelente, ele pode ser consumido em menos de um mês por um espectador mais ávido.

Para manter o público fiel, a Apple precisará alimentar o serviço com produções de qualidade, que parece ser o foco da companhia até o momento, com investimento . No entanto, sem quantidade e frequência nos lançamentos, a empresa dificilmente conseguirá justificar o pagamento da assinatura a longo prazo.

A Reuters aponta que analistas do Credit Suisse se mostram pouco otimistas com a possibilidade de o Apple TV+ dominar a Netflix, pelo menos em um primeiro momento. “Acreditamos que é improvável que a vantagem de 10 anos, o tamanho, o fôlego do conteúdo e o engajamento com os clientes da Netflix sejam prejudicados por um serviço de assinatura da Apple com uma catálogo original relativamente pequeno e sem conteúdo na biblioteca”, diz a análise.