O Android tem alguns problemas com privacidade, e isso ninguém tem como negar. O sistema nunca foi pensado para proteger seu público, até pelo fato de ser gratuito e seu desenvolvedor ser o Google, que só existe graças a publicidade direcionada com base em toneladas de informações coletadas de seus usuários. Curiosamente, quando o Google decide tomar ações para melhorar a privacidade no Android, a reação faz com que a proposta seja adiada.

Estamos falando de uma nova funcionalidade conhecida como Scoped Storage. Ela é feita para evitar que os aplicativos que os usuários instalam no celular abusem das permissões para acessar arquivos no celular que não teriam a ver necessariamente com suas funções.

O que o Scoped Storage faz é garantir que cada aplicativo tenha o seu próprio espacinho isolado no armazenamento do celular. Desta forma, cada app fica restrito ao seu “quadrado”, sem a capacidade de fuçar as pastas dos outros. Na prática, hoje o Android funciona de uma forma não muito diferente do Windows no que tange ao armazenamento: tudo é gravado em um diretório comum e organizado em pastas que permitem comunicação entre si.

A função tem uma aplicação importante de segurança. Afinal de contas, vários apps têm razões legítimas para solicitar acesso ao armazenamento do seu celular, seja para gravar informações ou para lê-las. No entanto, alguns exageram e começam a acessar dados com fins nebulosos, e acabam se valendo da inocência do usuário que aceita as permissões sem pensar muito, ou às vezes até mesmo por apertar o botão errado sem querer.

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Para o desenvolvedor, isso também tem seus pontos positivos. Os aplicativos para Android já têm uma pasta isolada para os arquivos necessários para seu funcionamento, mas o Scoped Storage cria uma segunda pasta independente para arquivos do usuário sem depender de uma permissão. Um aplicativo de gravação de áudio, por exemplo, precisa de um espaço para guardar os arquivos de som e assim ele não precisaria mais pedir permissão.

Ao mesmo tempo, o Android Q não mexeria no sistema de pastas compartilhadas do sistema. Pastas como a de armazenamento de fotos precisam ser acessíveis por múltiplos aplicativos por serem usados por muitos apps, e isso também vale para as pastas de músicas, downloads e vídeos.

Nem tudo são flores

A novidade pode ter sido projetada com a melhor das intenções, criando vantagens de privacidade e segurança para usuários e desenvolvedores, mas a reação não poderia ter sido pior, o que forçou o Google a postergar a implementação do recurso para o Android R, previsto para 2020.

A preocupação é de que os aplicativos que não estivessem devidamente adaptados ao novo modo de armazenamento simplesmente deixariam de funcionar do dia para a noite com o Android Q, já que é uma mudança fundamental na forma como o sistema operacional funciona.

Os desenvolvedores que estão preparando seus aplicativos para o Android Q começaram a reclamar disso, alegando que não haveria tempo o suficiente para se adaptar à novidade. Também há a preocupação de que usuários precisariam mudar a forma como utilizam o Android para se adequar às restrições.

O Google tentou solucionar o problema adotando um modo de compatibilidade, que permitiria que aplicativos desenvolvidos para o Android Pie ou uma versão anterior continuassem funcionando normalmente desde que instalados antes da atualização para a segunda versão beta do Android Q. No entanto, a solução seria paliativa, já que se um usuário desinstalasse um app que não tivesse sido adaptado ao Scoped Storage e voltasse a reinstalá-lo, a solução não funcionaria mais, assim como o aplicativo.

Agora a empresa optou por dar mais tempo aos desenvolvedores implementando a novidade como um requisito obrigatório apenas em 2020, permitindo que a transição seja realizada de forma gradual, em vez de um estanque.