Na última semana, começou a expectativa pelo primeiro celular com 10 GB de memória RAM. A primeira empresa a furar o limite dos 8 GB deve ser a chinesa Oppo, que se tornou uma das maiores fabricantes do planeta. Nestes casos, vale a pena fazer aquela pergunta de sempre: “para quê, afinal de contas, tanta memória RAM?”

Diante dessa pergunta, é impossível não olhar para o que faz a Apple com os novos iPhones XS, anunciados no mês passado. Com apenas 4 GB de memória RAM, os aparelhos deixaram comendo poeira todos os tops de linha Android em aplicativos de benchmark, mesmo, teoricamente, apresentando “configurações inferiores” (entre MUITAS aspas).

Como isso pode acontecer, afinal de contas? Por que o iOS depende de tão menos memória RAM para funcionar bem na comparação com os celulares Android? Para entendermos, primeiro é necessário explicar o que é memória RAM.

A RAM tem um papel fundamental sobre a operação de um computador, não importando se falamos de um desktop, um notebook ou um computador de bolso como um smartphone. Ela é responsável por armazenar informações de forma provisória para alimentar o processador. Esse papel é importante, porque a RAM é muito mais rápida do que o armazenamento convencional, e desta forma os dados que precisam ser acessados com mais frequência não precisam ficar sendo puxados a todo instante do HD.

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Uma parte importante do parágrafo acima, no entanto, é que os dados armazenados na RAM são temporários, e são descartados quando deixam de ser úteis. E é aqui que está uma das maiores diferenças entre o Android e o iOS: como essas informações são descartadas. O iOS utiliza um sistema chamado “reference counting” para gerenciamento de RAM, enquanto o Android utiliza uma outra técnica chamada de “garbage collection”.

Existem inúmeras discussões sobre qual sistema é mais eficiente na “reciclagem” da memória RAM, mas um fato é conclusivo: o “garbage collection” do Android precisa de mais RAM para funcionar adequadamente do que o sistema do iPhone, o que explica porque o Android precisa de mais memória do que um aparelho iOS para apresentar um desempenho igual.

O fato de que o iOS é um sistema totalmente fechado também ajuda a controlar melhor o uso de memória RAM pelos aplicativos. A lógica é simples. Se a Apple define que o melhor iPhone do momento terá, no máximo, 4 GB de memória RAM, todos os aplicativos no ecossistema precisam se adaptar para funcionar o melhor possível dentro desses 4 GB de memória RAM. Você nunca vai encontrar na App Store um app que exija mais do que esse limite, porque ele não vai rodar em nenhum aparelho.

No caso do Android, como há inúmeros aparelhos com configurações totalmente diferentes entre si, desenvolvedores muitas vezes acabam sendo desleixados em relação a otimização de seus aplicativos. Desta forma, o app pode acabar exigindo mais memória RAM do que precisa, porque o teto é muito mais alto.

No fim das contas, no entanto, apesar de o Android precisar de mais RAM, 10 GB de memória ainda são um exagero que não se justifica nem para os usuários mais exigentes, pelo menos por enquanto. Se a justificativa for estar preparado para o futuro e garantir que o aparelho não vai começar a engasgar nos próximos anos, no entanto, talvez a procura por um aparelho com tanta RAM assim faça mais sentido.