A próxima geração do PlayStation não chegará antes do segundo semestre de 2020. E, para fazer frente aos futuros concorrentes em um mercado em transformação, como o Google e seu serviço de streaming de jogos, a estratégia de marketing da Sony, sua fabricante, é clara: concentrar-se nos jogadores hard-core, “obcecados por lançamentos”.

O presidente-executivo da empresa, Kenichiro Yoshida, chegou a chamar o PlayStation de um produto de nicho. “Jogos extreamente detalhados se tornaram mais importantes do que nunca”, disse em uma recente reunião de estratégia. A empresa japonesa falou sobre as especificações do próximo PlayStation, como a capacidade de realizar “ray tracing” em tempo real — uma técnica de renderização 3D que calcula a posição dos raios de luz emitidos por cada fonte luminosa presente na cena, e que permite efeitos mais realistas, como reflexos em uma vitrine ou mesmo nos olhos dos personagens, tudo em tempo real.

O PlayStation se tornou o principal produto de consumo da Sony. No ano fiscal mais recente, essa verdadeira grife liderou as receitas da companhia, com faturamento superior a US$ 21 bilhões e quase US$ 3 bilhões em lucro operacional — este “trata-se do lucro gerado única e exclusivamente pela operação do negócio, descontadas as despesas administrativas, comerciais e operacionais; exclui-se qualquer movimentação financeira”.

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O gráfico acima mostra que a divisão de videogames da companhia faturou mais de 2,31 trilhões de ienes (moeda oficial japonesa) no último ano fiscal, de 31 de março de 2018 até 31 de março de 2019. Isso equivale a quase R$ 82 bilhões.

Analistas consideram a quinta geração do PlayStation, que ainda não tem um nome oficial, fundamental para as perspectivas da companhia. A expectativa é que ela esteja pronta até as festas de fim de ano de 2020.

O “PlayStation 5”, no entanto, não terá esse mercado apenas para si. Em novembro, o Google lançará um novo serviço chamado Stadia — focado em games que podem ser transmitidos na nuvem e que não exigem hardware especializado. A Apple também trabalha em um novo serviço de jogos chamado Apple Arcade, focado nos iPhones e iPads. A Microsoft, por sua vez, já anunciou que o próximo Xbox será lançado em 2020.

Segundo um integrante do alto escalão da Sony, a companhia japonesa enxerga a gigante dos softwares como sua principal concorrente na próxima geração, com o Google sendo uma ameaça em potencial a médio e longo prazo. Já a Nintendo não é vista como uma grande rival, porque seus principais usuários tendem a ser mais jovens do que o núcleo demográfico do PlayStation.

O PlayStation tem sido um dos produtos de maior sucesso no mercado de massa dos últimos 25 anos — em 2019, o modelo mais recente (quarta geração) deve ultrapassar a casa das 100 milhões de unidades. E a estratégia da Sony é colocar menos ênfase no número geral de vendas e mais em segmento ainda mais lucrativo deste mercado: os fãs dedicados, que compram títulos de alto custo, como as séries Fallout, da Bethesda Softworks LLC, e Red Dead Redemption, da Rockstar Games.

Enquanto se prepara para o próximo PlayStation, a companhia está concentrando sua atenção em grandes desenvolvedoras de software. Em geral, os criadores querem seus jogos em múltiplas plataformas para maximizar vendas. Já os fabricantes de consoles buscam exclusividade — seja uma oferta de conteúdo exclusivo ou um período inicial de vendas exclusivas.

Uma parte dos pequenos desenvolvedores de videogames diz que se sentiu desprezada pela Sony em contraste com a atitude da Nintendo. Em setembro de 2018, durante o Tokyo Game Show, a Nintendo apoiou eventos que serviram como uma espécie de vitrine para desenvolvedores independentes. A Sony costumava fazer o mesmo, mas não programou nada para 2019, segundo um de seus colaboradores.

Ainda de acordo com as fontes, a dona do PlayStation continua recebendo jogos de estúdios independentes, mas a ênfase está no fortalecimento das relações com grandes desenvolvedoras. O pensamento é, segundo um de seus funcionários, que as pessoas comprem um console para jogar games de alta qualidade disponíveis apenas nessa plataforma, e não jogos menores, disponíveis também em smartphones.

O Google afirmou que o serviço de nuvem Stadia vai além dos limites dos consoles tradicionais. Falando a desenvolvedores de jogos, em março deste ano, Majd Bakar, vice-presidente de engenharia do Stadia, disse: “Vocês estão acostumados a serem forçados a diminuir suas ambições criativas, que são limitadas pelo hardware. Mas nossa visão com o Stadia é que os recursos de processamento disponíveis ampliem-se para corresponder à sua imaginação”.

A Sony, por sua vez, diz que uma máquina de alta potência em casa ainda será necessária para executar os jogos mais exigentes de forma estável e em altíssima resolução. O próximo PlayStation será capaz de processar gráficos de ultra alta definição em 8K, segundo o chefe da sua divisão, Jim Ryan.

Yoshida, CEO da japonesa, descreveu o próximo PlayStation como um dispositivo que “aumentará dramaticamente a velocidade de renderização de gráficos”. Além disso, afirmou que a mudança “demonstrará claramente por que faz sentido ter um console de última geração”.

Outra estratégia da Sony é criar mais games de orçamento alto em seus estúdios internos, já que eles tornam-se títulos exclusivos, extremamente rentáveis.

Contudo, Hideki Yasuda, analista do Ace Research Institute, acredita que o excesso de jogos de orçamento alto da japonesa poderia diminuir sua variedade geral. Isso levaria alguns clientes a mudar para rivais como a Nintendo. No entanto, segundo um dos funcionários da Sony citado anteriormente, é esperado que games menores ainda sejam lançados para o PlayStation, mesmo sem o apoio extensivo da Sony. Isso porque a popularidade do console torna a plataforma difícil de ser ignorada por desenvolvedores menores de jogos.

Fonte: The Wall Street Journal